29 de fevereiro de 2016

Sobre Controle de Pragas

Primeiramente eu gostaria de "desdemonizar" as pragas. 

Sim. São bichinhos como qualquer outro, parte da natureza. Descompensados em quantidade e sem predadores suficientes para controlar seu número, foi o ser humano que alterou todo o equilíbrio e gerou a catástrofe de vê-los comendo plantações inteiras.

Pronto, falei. 
E agora que você já sabe de quem é a responsabilidade, podemos começar a falar do controle.

Há bichinhos e bichinhos. 
Em uma quantidade pequena, pode não influenciar em nada a cultura que você faz em casa... Pois atraindo joaninhas e outros insetos maiores, encarregam-se a si mesmos de comerem uns aos outros e se manterem em equilíbrio.

[Equilíbrio. Se a gente soubesse de verdade o que é isso, 90% dos problemas e doenças não existiriam. Ou mais.]






Mas já que "o que tem pra hoje" é muito concreto e pouco verde, poucos passarinhos e poucos predadores, às vezes a gente tem, sim, que dar uma mãozinha para as plantas não fenecerem nas bocas de seres ridiculamente pequenos.

A nossa cultura imediatista leva muitas pessoas a pensar logo em um veneno para deixar suas plantas "livre de pragas". Só que esse veneno mata tudo, inclusive os microrganismos benéficos, e só contribui para o caos a longo prazo.

Então, quando não tem jeito, a solução é optar por receitas menos agressivas, mais naturais, e aqui eu vou compartilhar com você algumas delas.

Antes, quero conversar sobre duas coisas que me chamaram muito a atenção durante a aula na Escola Municipal de Jardinagem de São Paulo, há vários anos atrás.

Uma delas é que a gente deve usar a substância escolhida borrifando-a sobre as áreas afetadas das plantas, a cada 5 a 7 dias, mas nunca por mais de 3 semanas seguidas.

Então, funciona assim: Você faz o preparo da substância, aplica sobre a planta, espera 5 a 7 dias, aplica de novo, espera mais 5 a 7 dias, aplica de novo. Nesse período de tempo, entre uma aplicação e outra, os bichinhos devem diminuir de número, sinal de que o tratamento está funcionando.

Aqui é que é necessário prestar atenção: Se após 3 semanas de aplicação o problema tiver diminuído, mas não tiver sido totalmente resolvido, você deve trocar a substância aplicada por outra diferente.

É muito importante "seguir essa dieta", para que o inseto não crie resistência àquela primeira substância (ou seja, para você não criar seu próprio inseto mutante).

A outra coisa que me chamou a atenção é que a professora, para cada tipo de microbichinho que citava, relacionava algumas alternativas de defensivo a ser aplicada... E uma delas aparecia em quase todos os casos. 

Ácaro, maria fedida, pulgão, percevejo, cochonilha, bicho mineiro ou inseto geográfico, todos eles carregavam como alternativa uma mesma mistura que poderia ser aplicada: óleo de neem com óleo mineral.

A receita divulgada pela escola leva as seguintes proporções:
1 colher de chá de óleo de nem
+1 colher de chá de óleo mineral
+1L de água

É uma mistura coringa que a gente deve guardar na manga, sempre funcionou para minhas plantas. E ainda assim quero compartilhar com você a experiência da Adriana.

Porque eu acredito na jardinagem como na gastronomia: cada pessoa que dá seu toque pessoal a uma receita pode obter sucesso, mesmo usando um meio diferente. É o que faz disso uma cultura enriquecedora. A Adriana fez do seu próprio jeito, e narra aqui seu resultado:

"Eu tenho uma arvorezinha em um vaso, um arbusto, e, do meu jardim, é a que mais pega pulgão e cochonilha. Eu já tinha tentado usar óleo de neem, fumo de corda e até venenos. Teve um veneno pesado que funcionou, mas eu não queria continuar com ele... Porque, afinal, era veneno, agrotóxico mesmo.
Quando eu aplicava só óleo de neem, os bichos voltavam muito rápido, em menos de uma semana. Tentei intercalar neem, fumo e veneno, mas sempre voltava muito rápido.
Aí a Leticia me contou da receita de misturar óleo de neem com óleo mineral, e isso deu muito certo.
A proporção que eu usei para preparar o óleo de neem foi a indicada na embalagem. São 3 tampinhas para cada 1 litro de água,e eu acrescentei 1 tampinha de óleo mineral. Então, a proporção que eu usei entre o óleo mineral e o de neem é de 1 pra 3. E deu muito, muito certo. Demorou um mês para eu ter que fazer uma reaplicação.
Mas gostaria de dizer que eu apliquei isso em outras plantas e, dependendo do tipo de folhagem, ela "queima" (as folhas ficaram queimadas); acredito que possa ser o óleo depois de entrar em contato com o sol. 
O que eu reparei é que funcionou muito bem quando eu apliquei nas folhas que já são brilhantes, lisas, geralmente verde-escuras... Mas que as folhas opacas, essas ficaram um pouco queimadas."

Eu quis compartilhar isso com você porque achei muito lindo o senso de aventura e experimentação que a Adriana resolveu assumir. Ela traz à tona a forma "sem medo de ser feliz" de manifestar seu carinho pelas plantas, além de ter autorizado a publicação de suas experiências para que outras pessoas (você) possam se tornar um pouco mais sábias a partir de sua pequena aventura.

Uma vez que os pulgões e cochonilhas costumam se alojar na parte de baixo das folhas e nos talos, quando tratamos de vasos podemos procurar tomar o cuidado de borrifar a substância priorizando as áreas mais afetadas, evitando a parte superior das folhas, para não queimá-las.

[É também interessante notar que folhas lisas e verde-escuras são características bastante comuns em plantas de meia sombra.]

Voltando aos cuidados, como foi dito anteriormente, se uma certa mistura é usada muitas vezes seguidas pode-se gerar resistência a essa substância no inseto. Portanto, se após 3 semanas o problema não estiver completamente resolvido, troque a receita, use variações sempre que necessárias.

E, como o que eu quero é que você também tenha suas próprias (boas) experiências, eu deixo abaixo algumas outras receitas para você usar ;)

Cada uma dessas misturas pode ser pulverizada sobre as áreas afetadas das plantas 1x/semana. O intervalo pode ser menor, conforme a gravidade, mas nunca menos de 2 dias.

Após a pulverização, evite banhar as folhas por 3 dias (regar a planta só no pé). Evite também aplicar em dias chuvosos.

Que você tenha bons plantios, boas experiências e muito verde saudável na vida :)


Tintura de fumo
5cm de fumo de corda cortadinho
1L de álcool (comum ou de cereais)
Deixar 10 dias em repouso sem claridade (embrulha em jornal)
Coar em filtro de pano ou de café
Usar 1 parte da tintura para 10 partes de água (diluir somente na hora de usar, não guardar diluído)
Validade: 6 a 8 meses


Calda de sabão de coco
2 colheres de sabão de coco ralado em 1L de água
Usada para dar aderência das outras caldas à planta. (exceto quando usa óleo mineral)


Calda de alho e cebola
Utilize cascas de alho e cebola, os restos da cozinha. 
Ferver em água e pulverizar sobre as folhas depois que esfriar.


Calda bordalesa – para doenças fúngicas
30g de cal virgem (aprox. 3 colheres de sopa)
30g de sulfato de cobre
5L de água








3 comentários:

  1. Suas dicas são sempre muito boas! Eu estou com muita dificuldade em combater a mosca branca. Fiquei sabendo que as joaninhas são predadoras desse inseto mas, nunca vi uma na minha hortinha. Como faço para atraí-las?

    ResponderExcluir
  2. Muito útil, pois estou começando a fazer a minha horta caseira.

    ResponderExcluir
  3. Muito bom este artigo! Essa semana comprei o óleo de Neem para combater as cochonilas das minhas suculentas mais ainda assim, eu não sabia bem como aplicar. Agora esclareci totalmente minhas dúvidas e ainda, conheci outros métodos naturais. Muito obrigada Letícia!

    ResponderExcluir